
Hey, aqui está um novo conto...
Almas bucólicas
“Que lugar adorável!”, exclamei em meu íntimo, ao sair da modesta estação da cidade de Blunen, localizada no interior da Áustria. Não era acostumado com o campo. Afinal, que lugar seria mais apropriado para um jovem membro da aristocracia alemã do que a agitada Berlim? Porém, no momento em que senti o perfume das flores cobertas pelo orvalho da alvorada, fui tomado pelo bucolismo e por sentimentos felizes, que fizeram minha mente vagar pelos campos da imaginação.
Pena que tais sensações sejam tão efêmeras. Logo despertei, recordando do motivo que me trouxera aqui. Meu Tio falecera há dois meses e eu havia herdado propriedades nessa área. Pretendia vendê-las e por isso ficaria em Blunen por tempo indeterminado. Nunca conheci meu parente. Apesar de minha vasta cultura, fornecida pelo dinheiro de meu pai, através de livros e tutores, nunca deixara a Alemanha até então.
Tive êxito em encontrar as terras e fui recebido gentilmente pela governanta da fazenda, que chamou um rapaz para me ajudar com minha bagagem e em seguida me ofereceu chá, acompanhado por uma fatia de strudell de maçã. Depois de comer, me recolhi em meus aposentos, consumido pela longa viagem. Acordei com o luar invadindo o cômodo, dando-lhe um aspecto macabro.
Fui até o banheiro para tomar um banho e me livrar das suadas roupas. Era majestoso como os quartos, mas as pequenas rachaduras no espelho e na banheira revelavam um certo descuido. Despi-me e encarei minha figura refletida por um minuto. Deparei-me com um moço de cabelo bronze e olhos castanhos, tez clara, corpo saudável, com músculos recém-adultos. Confesso que essa imagem provocava com freqüência um sorriso orgulhoso no canto de meus lábios. Esse convencimento apenas se agravava quando ouvia suspiros femininos em bailes ou em qualquer evento social. O irônico é que nunca houve um suspiro que me chamou atenção.
Depois de vestido, fui até a cozinha informar à governanta que não seria necessário pôr a mesa, pois jantaria fora. Cavalguei até o centro da cidadezinha, em busca de algum restaurante. O melhor lugar que pude encontrar foi um bar, com uma placa, sobre uma grande porta de vidro, que carregava as palavras “Blunen’s Pub”. Ri com a falta de originalidade do dono, enquanto amarrava meu cavalo. Entrei no estabelecimento. A meu ver, era deveras o local mais sofisticado e animado da região, provavelmente o principal reduto de jovens. Era relativamente limpo e agradável, repleto de mesas de madeira, pessoas conversando e dançando e jogadores (tanto sóbrios quanto ébrios). Sentei-me próximo ao balcão e pedi a um senhor barbudo e macilento uma taça de vinho e carne de porco com batatas. Levei aproximadamente vinte minutos para saborear minha refeição. Paguei e me dirigi à porta.
Meu trajeto foi interrompido pelos meus olhos, que se dirigiram imediatamente à extremidade do fundo do salão. Meu corpo foi tomado por um estranho sentimento. Quando notei, já estava caminhando até lá. Fora a visão mais inusitada de toda a minha existência. “Olá, senhorita, meu nome é Friedrich Swartz”, disse, enrubescendo. A moça deu um sorrisinho ao notar a nova coloração adquirida pelo meu rosto e me estendeu a mão. “Prazer, sou Liesel Poll”. Pedi licença e puxei uma cadeira para me juntar a ela. Minha ousadia não pareceu perturbá-la. Muito pelo contrário. Essa reação encorajou-me ainda mais. “Há quanto tempo mora aqui, Srta. Poll?”, indaguei. “Há muito senhor, há muito”, respondeu a jovem, seriamente. “O senhor é novo em Blunen, não estou certa?”. “Sim, na verdade cheguei hoje à tarde. Ficarei aqui por uns tempos até vender as propriedades de meu tio”, expliquei, tropeçando nas palavras.
Conversamos por um longo período de tempo. Pouco descobri sobre a garota, mas ela desvendou muito a meu respeito. Não sabia a sua idade, mas presumi que deveria ser um pouco mais nova do que eu. Aparentava ter dezenove ou vinte anos. Tampouco sabia sobre sua família. Ela apenas mencionou morar sozinha.
Com a chegada da madrugada, achei prudente retornar à fazenda. Dei um demorado beijo em sua mão e me despedi. “Podemos nos encontrar aqui amanhã novamente senhorita?”. Notei um leve brilho em seus olhos de mogno. “Seria ótimo senhor, mas amanhã é o baile anual de Blunen, uma das pouquíssimas diversões que temos por aqui.” Essa frase me trouxe desânimo. Se ela iria ao tal baile, provavelmente tinha um par. “Tem acompanhante?”, argúi, engolindo seco. “Não”, respondeu Liesel, friamente. “Posso ter a honra de acompanhá-la?”, perguntei, um tanto esperançoso. Ela consentiu com a cabeça. Combinamos que nos encontraríamos no próprio baile por volta das oito.
Saí do bar com a alma coberta de satisfação. Quão incrível fora essa noite! Minha ansiedade nesse momento era completamente juvenil, uma sensação que apenas resultava em conjecturas e fantasias, que foram capazes de roubar a minha hora de sonhar. Errado. Sonhei, e como! Apenas o fiz acordado! A cama tornara-se o leito de minhas ilusões e esperanças, onde minha curiosidade e inexplicável felicidade jaziam. Era capaz aquela mera taça de vinho de envenenar a minha sanidade? Creio que não. Foi a donzela que me embriagara, ou me tornara mais sóbrio do que nunca.
Quando o céu fora riscado por raios dourados, percebi que era a hora de despertar. Vesti-me e tomei o desjejum. Passei o dia com a literatura, com intuito de atenuar o fardo do tempo. As sete horas chegaram, junto com meu intenso nervosismo. Tomei um banho e me arrumei. Escolhi meu melhor sobretudo, o chapéu mais fino e calcei um par de sapatos italianos. Tomei uma carruagem e parti.
Não tive dificuldade alguma em encontrar o local do evento. Era uma mansão de arquitetura clássica e soberba. Liesel estava sentada em um banco do jardim, com as mãos pousadas sobre a face. O vento acariciava o seus negros cabelos. Vestia um vestido longo e vermelho, que contrastava com sua pele banhada a leite. Aproximei-me lentamente. “Boa noite”, disse, estendendo-lhe a mão. Ela sorriu e me deu o braço. O calor de seu corpo me trouxe conforto. Fomos até o salão. A música que tocava era doce e a pista estava preenchida por casais risonhos. Juntamo-nos a eles. Ela manteve uma certa distância entre nossos corpos, o que me incomodou. Puxei-a para mim, sutilmente. Ela nada fez. Puxei mais um pouco, até que a distância havia acabado completamente. A moça fitou-me por alguns segundos, encostou delicadamente seus lábios nos meus e logo os retirou. Fiquei paralisado. Meu sangue circulava violentamente em meu corpo, um rio com correntezas. Tomei seu rosto em minhas mãos trêmulas e frias e retornei o beijo bruscamente. Cerca de dois minutos se passaram assim, até ela tentar me afastar. Eu o fiz, com contrariedade.
Dançamos até o final do baile. Não conversamos muito. Ela apenas me sussurrou que seus relacionamentos nunca eram duradouros e esperava que comigo fosse diferente. Nós fomos o último casal a deixar o salão. “Poderia me deixar em casa Fredrich?”, perguntou a moça, suavemente. “Claro”, afirmei de prontidão, com entusiasmo. Ajudei-a a subir na carruagem e partimos.
Sua casa não era condizente com sua pessoa. A portinhola da fachada era enferrujada e suja. O jardim era repleto de vegetação morta e as janelas lacradas por tábuas de carvalho. A pintura era inteiramente gasta, sendo que, em algumas partes, os tijolos eram visíveis. Tentei disfarçar meu espanto perante aquele ambiente tétrico. Perguntei absolutamente nada. Apenas a conduzi até à porta. Por um momento, esqueci onde estava e tudo que me rodeava. Foquei seus olhos e tive a sensação de estar deitado em um campo de relva. Senti-me bucólico. Ela desceu a palma de sua mão sobre minha bochecha e pediu com a voz fraca para que eu entrasse. Nem passou em minha mente a idéia da recusa. Segui-a até um quarto sem atribuir a menor importância ao estado interior da casa, mais deplorável do que o exterior. Não era normal meu comportamento com relação a Liesel. Ela tinha alguma influência hipnotizante sobre mim. Apesar de conhecê-la há pouquíssimo tempo, eu já a amava profundamente, já encontrava paz ao seu lado. Concluí que a pediria em casamento esta noite. Não dormiria nem mais um dia se não tivesse a certeza de que ela fosse minha.
Entrei no quarto, fechei a porta e fiquei imóvel. A dama aproximou-se de um baú de mármore e o abriu. Não consegui ver o que ele guardava. Ela me fez um sinal com o dedo para que eu sentasse na cama. Obedeci. Quando inclinei a cabeça para tentar enxergar o conteúdo, ela pulou em meu colo e me agarrou com toda a sua força. Entreguei-me completamente a ela, preferindo a volúpia à minha inocente curiosidade. Liesel pôs-se a rir entre os beijos. Sua voz era semelhante à de uma ninfa de um lago cristalino. Desci hesitantemente a alça de seu vestido. A harpa em sua garganta tornou-se gradativamente mais grave, até se transformar em um órgão. De repente, não era mais capaz de retribuir a carícia. Não podia realizar movimento algum. Estava leve como uma nuvem em um dia ensolarado e o mundo ganhara outra forma, outro cheiro, outra cor, outro aspecto. Fui dominado por pânico ao ver meu corpo rígido e pálido em cima da cama empoeirada do quarto, ao lado de uma criatura demoníaca que o revirava, soltando gargalhadas.
“Que lugar adorável!”, exclamei em meu íntimo, ao sair da modesta estação da cidade de Blunen, localizada no interior da Áustria. Não era acostumado com o campo. Afinal, que lugar seria mais apropriado para um jovem membro da aristocracia alemã do que a agitada Berlim? Porém, no momento em que senti o perfume das flores cobertas pelo orvalho da alvorada, fui tomado pelo bucolismo e por sentimentos felizes, que fizeram minha mente vagar pelos campos da imaginação.
Pena que tais sensações sejam tão efêmeras. Logo despertei, recordando do motivo que me trouxera aqui. Meu Tio falecera há dois meses e eu havia herdado propriedades nessa área. Pretendia vendê-las e por isso ficaria em Blunen por tempo indeterminado. Nunca conheci meu parente. Apesar de minha vasta cultura, fornecida pelo dinheiro de meu pai, através de livros e tutores, nunca deixara a Alemanha até então.
Tive êxito em encontrar as terras e fui recebido gentilmente pela governanta da fazenda, que chamou um rapaz para me ajudar com minha bagagem e em seguida me ofereceu chá, acompanhado por uma fatia de strudell de maçã. Depois de comer, me recolhi em meus aposentos, consumido pela longa viagem. Acordei com o luar invadindo o cômodo, dando-lhe um aspecto macabro.
Fui até o banheiro para tomar um banho e me livrar das suadas roupas. Era majestoso como os quartos, mas as pequenas rachaduras no espelho e na banheira revelavam um certo descuido. Despi-me e encarei minha figura refletida por um minuto. Deparei-me com um moço de cabelo bronze e olhos castanhos, tez clara, corpo saudável, com músculos recém-adultos. Confesso que essa imagem provocava com freqüência um sorriso orgulhoso no canto de meus lábios. Esse convencimento apenas se agravava quando ouvia suspiros femininos em bailes ou em qualquer evento social. O irônico é que nunca houve um suspiro que me chamou atenção.
Depois de vestido, fui até a cozinha informar à governanta que não seria necessário pôr a mesa, pois jantaria fora. Cavalguei até o centro da cidadezinha, em busca de algum restaurante. O melhor lugar que pude encontrar foi um bar, com uma placa, sobre uma grande porta de vidro, que carregava as palavras “Blunen’s Pub”. Ri com a falta de originalidade do dono, enquanto amarrava meu cavalo. Entrei no estabelecimento. A meu ver, era deveras o local mais sofisticado e animado da região, provavelmente o principal reduto de jovens. Era relativamente limpo e agradável, repleto de mesas de madeira, pessoas conversando e dançando e jogadores (tanto sóbrios quanto ébrios). Sentei-me próximo ao balcão e pedi a um senhor barbudo e macilento uma taça de vinho e carne de porco com batatas. Levei aproximadamente vinte minutos para saborear minha refeição. Paguei e me dirigi à porta.
Meu trajeto foi interrompido pelos meus olhos, que se dirigiram imediatamente à extremidade do fundo do salão. Meu corpo foi tomado por um estranho sentimento. Quando notei, já estava caminhando até lá. Fora a visão mais inusitada de toda a minha existência. “Olá, senhorita, meu nome é Friedrich Swartz”, disse, enrubescendo. A moça deu um sorrisinho ao notar a nova coloração adquirida pelo meu rosto e me estendeu a mão. “Prazer, sou Liesel Poll”. Pedi licença e puxei uma cadeira para me juntar a ela. Minha ousadia não pareceu perturbá-la. Muito pelo contrário. Essa reação encorajou-me ainda mais. “Há quanto tempo mora aqui, Srta. Poll?”, indaguei. “Há muito senhor, há muito”, respondeu a jovem, seriamente. “O senhor é novo em Blunen, não estou certa?”. “Sim, na verdade cheguei hoje à tarde. Ficarei aqui por uns tempos até vender as propriedades de meu tio”, expliquei, tropeçando nas palavras.
Conversamos por um longo período de tempo. Pouco descobri sobre a garota, mas ela desvendou muito a meu respeito. Não sabia a sua idade, mas presumi que deveria ser um pouco mais nova do que eu. Aparentava ter dezenove ou vinte anos. Tampouco sabia sobre sua família. Ela apenas mencionou morar sozinha.
Com a chegada da madrugada, achei prudente retornar à fazenda. Dei um demorado beijo em sua mão e me despedi. “Podemos nos encontrar aqui amanhã novamente senhorita?”. Notei um leve brilho em seus olhos de mogno. “Seria ótimo senhor, mas amanhã é o baile anual de Blunen, uma das pouquíssimas diversões que temos por aqui.” Essa frase me trouxe desânimo. Se ela iria ao tal baile, provavelmente tinha um par. “Tem acompanhante?”, argúi, engolindo seco. “Não”, respondeu Liesel, friamente. “Posso ter a honra de acompanhá-la?”, perguntei, um tanto esperançoso. Ela consentiu com a cabeça. Combinamos que nos encontraríamos no próprio baile por volta das oito.
Saí do bar com a alma coberta de satisfação. Quão incrível fora essa noite! Minha ansiedade nesse momento era completamente juvenil, uma sensação que apenas resultava em conjecturas e fantasias, que foram capazes de roubar a minha hora de sonhar. Errado. Sonhei, e como! Apenas o fiz acordado! A cama tornara-se o leito de minhas ilusões e esperanças, onde minha curiosidade e inexplicável felicidade jaziam. Era capaz aquela mera taça de vinho de envenenar a minha sanidade? Creio que não. Foi a donzela que me embriagara, ou me tornara mais sóbrio do que nunca.
Quando o céu fora riscado por raios dourados, percebi que era a hora de despertar. Vesti-me e tomei o desjejum. Passei o dia com a literatura, com intuito de atenuar o fardo do tempo. As sete horas chegaram, junto com meu intenso nervosismo. Tomei um banho e me arrumei. Escolhi meu melhor sobretudo, o chapéu mais fino e calcei um par de sapatos italianos. Tomei uma carruagem e parti.
Não tive dificuldade alguma em encontrar o local do evento. Era uma mansão de arquitetura clássica e soberba. Liesel estava sentada em um banco do jardim, com as mãos pousadas sobre a face. O vento acariciava o seus negros cabelos. Vestia um vestido longo e vermelho, que contrastava com sua pele banhada a leite. Aproximei-me lentamente. “Boa noite”, disse, estendendo-lhe a mão. Ela sorriu e me deu o braço. O calor de seu corpo me trouxe conforto. Fomos até o salão. A música que tocava era doce e a pista estava preenchida por casais risonhos. Juntamo-nos a eles. Ela manteve uma certa distância entre nossos corpos, o que me incomodou. Puxei-a para mim, sutilmente. Ela nada fez. Puxei mais um pouco, até que a distância havia acabado completamente. A moça fitou-me por alguns segundos, encostou delicadamente seus lábios nos meus e logo os retirou. Fiquei paralisado. Meu sangue circulava violentamente em meu corpo, um rio com correntezas. Tomei seu rosto em minhas mãos trêmulas e frias e retornei o beijo bruscamente. Cerca de dois minutos se passaram assim, até ela tentar me afastar. Eu o fiz, com contrariedade.
Dançamos até o final do baile. Não conversamos muito. Ela apenas me sussurrou que seus relacionamentos nunca eram duradouros e esperava que comigo fosse diferente. Nós fomos o último casal a deixar o salão. “Poderia me deixar em casa Fredrich?”, perguntou a moça, suavemente. “Claro”, afirmei de prontidão, com entusiasmo. Ajudei-a a subir na carruagem e partimos.
Sua casa não era condizente com sua pessoa. A portinhola da fachada era enferrujada e suja. O jardim era repleto de vegetação morta e as janelas lacradas por tábuas de carvalho. A pintura era inteiramente gasta, sendo que, em algumas partes, os tijolos eram visíveis. Tentei disfarçar meu espanto perante aquele ambiente tétrico. Perguntei absolutamente nada. Apenas a conduzi até à porta. Por um momento, esqueci onde estava e tudo que me rodeava. Foquei seus olhos e tive a sensação de estar deitado em um campo de relva. Senti-me bucólico. Ela desceu a palma de sua mão sobre minha bochecha e pediu com a voz fraca para que eu entrasse. Nem passou em minha mente a idéia da recusa. Segui-a até um quarto sem atribuir a menor importância ao estado interior da casa, mais deplorável do que o exterior. Não era normal meu comportamento com relação a Liesel. Ela tinha alguma influência hipnotizante sobre mim. Apesar de conhecê-la há pouquíssimo tempo, eu já a amava profundamente, já encontrava paz ao seu lado. Concluí que a pediria em casamento esta noite. Não dormiria nem mais um dia se não tivesse a certeza de que ela fosse minha.
Entrei no quarto, fechei a porta e fiquei imóvel. A dama aproximou-se de um baú de mármore e o abriu. Não consegui ver o que ele guardava. Ela me fez um sinal com o dedo para que eu sentasse na cama. Obedeci. Quando inclinei a cabeça para tentar enxergar o conteúdo, ela pulou em meu colo e me agarrou com toda a sua força. Entreguei-me completamente a ela, preferindo a volúpia à minha inocente curiosidade. Liesel pôs-se a rir entre os beijos. Sua voz era semelhante à de uma ninfa de um lago cristalino. Desci hesitantemente a alça de seu vestido. A harpa em sua garganta tornou-se gradativamente mais grave, até se transformar em um órgão. De repente, não era mais capaz de retribuir a carícia. Não podia realizar movimento algum. Estava leve como uma nuvem em um dia ensolarado e o mundo ganhara outra forma, outro cheiro, outra cor, outro aspecto. Fui dominado por pânico ao ver meu corpo rígido e pálido em cima da cama empoeirada do quarto, ao lado de uma criatura demoníaca que o revirava, soltando gargalhadas.